Uso da vírgula antes do “mas”
Descubra o correto uso da vírgula antes do “mas” e outras formas de usar a pontuação para melhorar as suas redações.
— Carol Machado,7 de maio de 2019
Embora pareça um assunto bem simples, ainda existem muitas confusões a respeito do uso da vírgula com a conjunção “mas”.
Por isso, neste artigo vamos mostrar cada situação em que você vai precisar – ou não – da vírgula junto a essa conjunção coordenativa (quase sempre) adversativa.
O “mas” é uma conjunção adversativa
mas
conjunção
1 conj. advrs. liga orações, sintagmas ou períodos com as mesmas propriedades sintáticas, introduzindo elemento que denota basicamente oposição ou restrição ao que foi dito, com uma informação que para o enunciador tem maior importância do que a anterior; porém, contudo, entretanto, todavia
(Houaiss)
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O que quer dizer conjunção adversativa exatamente? É até bem simples: quando temos duas orações, o mas é usado para contradizer a ideia da oração à esquerda. Assim:
- [João amava Maria], mas [Maria não amava João].
- [Queria uma casa vermelha], mas [acabou pintando a sua de azul].
O “mas” também pode ser uma conjunção aditiva
O danado do mas pode nos pregar uma peça, porque em questões de língua nada é tão simples quanto parece. Assim, às vezes, ele pode dar uma ideia de adição e ser pontuado como as orações aditivas.
Veja mais detalhes sobre esses usos nos exemplos abaixo.
Uso da vírgula com a conjunção “mas”
Agora que você já entendeu os sentidos básicos da conjunção, podemos partir para o uso da vírgula com o mas.
1. Mas com vírgula antes
Existe por aí uma lenda de que o mas é sempre virgulado. No entanto, a vírgula precede essa conjunção quando ela tem sentido adversativo. Ok, ok! Isso é, tipo, 90% dos casos (uma estatística oferecida pelo Instituto Revisão para quê?).
Exemplo:
- Se você fez belíssimas sessões de análise de texto e de comunicação, mas seus alunos não aprenderam ortografia, concordância, regência e ... pontuação, você é um mau professor de Português.
(Exemplo retirado de Luft, em A vírgula.)
2. Mas sem vírgula antes
Piacentini, no Manual da boa escrita, registra o mas “desvirgulado” quando ele coordena dois termos (em oposição à coordenação de duas orações), o que também é possível inferir do que diz Cegalla no Dicionário de dificuldades (p. 261): “Usa-se vírgula antes de mas entre duas orações” (negrito nosso).
Veja o exemplos dados por Piacentini (p. 35):
- Sou pobre mas feliz.
- Esperava que confessasse não um pecado mas uma infâmia.
- Podes alugar uma casa antiga mas limpa, pelo menos.
Azeredo, no entanto, na Gramática Houaiss da língua portuguesa, coloca virgulado o mesmo tipo de construção em exemplo:
- A secretária dele é antipática, mas competente.
“Mas” com valor aditivo
Embora seja bastante difundida a possibilidade de não haver vírgula antes de um mas com sentido aditivo, encontrar tal regra explicitada em materiais de referência não é tarefa simples.
Quem mais se aproxima de falar sobre essa possibilidade é Bechara, na Moderna gramática portuguesa:
Muitas vezes, graças ao significado dos lexemas envolvidos na adição, o grupo das orações coordenadas permite-nos extrair um conteúdo suplementar de “causa”, “consequência”, “oposição”, etc. Estes sentidos contextuais, importantes na mensagem global, não interessam nem modificam a relação aditiva das unidades envolvidas: Rico e inteligente e rico e desonesto, ambas se unem por uma relação gramatical de adição, embora a oposição semântica existente entre rico e desonesto apresente um sentido suplementar, como se estivesse enunciado rico mas desonesto. O mesmo se dá se uma unidade for afirmativa e outra negativa: rico e não honesto.
3. Mas com vírgula depois e mas sem vírgula depois
Já disse Bechara no seu Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa (p. 187):
Não se deve usar vírgula depois de mas em início de período, exceto quando as vírgulas delimitam uma oração ou adjunto adverbial em casos do tipo: “Mas, quase sem perceber, foi andando em direção contrária, até encontrar o enorme muro […].” (Carlos Heitor Cony, Vera Verão); […]
É normal que, ao pronunciarmos uma frase como essa do exemplo em voz alta, façamos uma pausa depois do mas; entretanto, essa pausa não corresponde a uma vírgula, a não ser que haja, como mostrado, uma intercalação virgulada subsequente.
Outros casos de vírgula e expressões que contêm “mas”
O mas também compõe expressões que podem ou não aparecer virguladas. Veja quais são e seus exemplos.
Vírgula na expressão “não só… mas também” e suas variações
É, de acordo com Azeredo, na Gramática Houaiss da língua portuguesa, um adjunto conjuntivo com valor aditivo. Embora aprendamos que coordenações com o traço semântico de adição não são separadas por vírgula, o mas que faz parte dessa expressão geralmente é também antecedido por vírgula.
- “Em tais ocasiões, participavam das festividades não apenas os moradores do núcleo urbano, mas também aqueles dos sítios e fazendas dos arredores…” [MELO e SOUZA, 1997: 113]
(Exemplo retirado da mesma gramática.)
Vírgula na expressão “mas sim”
Considera-se que a união das duas palavras forma uma unidade de significado, portanto, não é necessário que se separe o “sim” por uma intercalação de vírgulas, como: “Não se deve falar em descobrimento do Brasil, mas sim em chegada dos europeus” (exemplo retirado de Piacentini).
Referências
- AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 4. ed. São Paulo: Publifolha; Instituto Houaiss, 2018.
- BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna; Nova Fronteira, 2009.
- BECHARA, E; MAHMUD, S (colaboração). Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
- CEGALLA, Domingos Pascoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Lexicon; Porto Alegre: L&PM, 2012.
- CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.
- INSTITUTO HOUAISS. Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa. [2007]. Disponível em: houaiss.uol.com.br. Acesso em: 30 abr. 2019.
- LUFT, C. P. A vírgula: considerações sobre o seu ensino e o seu emprego. 2. ed. 3. reimp. São Paulo: Ática, 2002.
- PIACENTINI, M. T. de Q. Manual da boa escrita: vírgula, crase, palavras compostas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2014.
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