Além da revisão: critérios para a revisão textual, de Aristides Coelho Neto
A fim de conhecer um pouco sobre obras que tratam da revisão de textos? Sim? Para isso, acompanhe esta série de resenhas de textos importantes para a área da revisão. O objetivo? Simples, contribuir ainda mais para a sua formação.
— Marcos Queiroz,24 de maio de 2019
Além da revisão: critérios para a revisão textual, de Aristides Coelho Neto, publicado em 2008 pela Editora Senac, apresenta-se como desapegado do ambiente acadêmico. Isso por seu público-alvo é um pouco mais amplo: linguistas, revisores, publicitários, jornalistas e pessoas interessadas pelo português estão entre os leitores destacados pelo autor.
Além disso, comenta Aristides que “um dos atrativos de Além da revisão deveria ser a condição de ser agradável à leitura, contendo curiosidades, amenidades” (p. 13). Considero – como leitor – esse objetivo alcançado.
Heterogeneidade de interesses da obra
O texto é organizado em capítulos que expressam bem sua heterogeneidade de interesses. No primeiro, o autor faz uma incursão histórica sobre a escrita, explora a evolução do sitema de produção e de reprodução de textos, alcançando o debate acerca do fim ou não do livro impresso; finaliza por fazer um breve resumo do histórico da revisão de textos.
De maneira breve, mas com propriedade, Aristides discute temas como a reforma ortográfica, o preconceito linguístico, a norma culta e o papel do revisor neste cenário de incertezas. A ele cabe ser o “mediador” dessas questões, uma vez que possui o conhecimento (ou ao menos deveria) que lhe permite decidir, por exemplo, sobre o uso de formas gramaticais facultativas de acordo com o contexto de aplicação delas. São palavras do próprio autor:
“Parece-nos que é apreciável que o revisor deve conhecer as várias correntes, posicionar-se bem dentro de um contexto, tendo em mente a exata variedade linguística com que lida em um determinado trabalho de revisão textual.” (p. 52)
O manual de Aristides contém onze capítulos, que abordam diversos temas relacionados à revisão de textos. Entre os assuntos abordados nesses capítulos, podemos destacar:
- uma longa descrição do processo de realização da revisão textual, explicando todas as suas etapas em detalhes (capítulo seis);
- uma abordagem dos aspectos do dia a dia do revisor de textos por meio de exemplos tanto de revisões quanto de relacionamento com o cliente (capítulo sete);
- um conjunto de exercícios para testar os conhecimentos do leitor sobre revisão de textos (capítulo dez);
- uma série de tabelas e listagens úteis ao revisor, dentre as quais destaco a lista de sinais de revisão empregados (capítulo onze) – destaco também que essa lista de sinais é parte essencial de quase todos os manuais de revisão que lemos.
O que é revisão de textos?
Aristides conceitua a revisão de textos propondo mesmo uma lista de atribuições de competência do revisor. São elas:
- revisar originais aprovados para edição, incluindo-se aí desde textos publicados por editoras a textos acadêmicos e publicitários;
- revisar traduções;
- revisar textos a serem disponibilizados na internet;
- revisar livros já publicados, quando do caso de edição revista;
- proceder a quantas revisões forem acordadas com o cliente.
Observe-se que para Aristides Coelho Neto a atribuição básica de um revisor de textos é “revisar”, todavia o que se entende por isto não se encontra localizado num ponto específico de seu texto, mas sim em seu conjunto.
Parâmetros e ferramentas para a revisão
O autor chega a discutir alguns parâmetros que devem ser estabelecidos pelo revisor, para tratar de assuntos como a norma culta da modalidade escrita, o uso de palavras dicionarizadas e não dicionarizadas e a oralidade. Em todos esses casos, o revisor deve assumir o papel de mediador – um leitor mediador atento e exigente.
Não apenas de parâmetros, Aristides trata das ferramentas (instrumentos) que o revisor utiliza e, antes de citar as diversas gramáticas, manuais, dicionários etc., cita a leitura como o primeiro instrumento do revisor. Uso das palavras do autor para explicar a relação:
Numa revisão, subentende-se, foram delegados poderes ao seu agente (o revisor), para aprimorar o texto do autor. Aquele é, assim, extensão do autor. Ao mesmo tempo o revisor é leitor – o comum, o exigente, o ingênuo. Cabe-lhe então desenvolver uma forma de leitura em que atue como decisor linguístico, mas na condição de público-alvo ao mesmo tempo, desenvolvendo ainda a habilidade de verificar não só forma como conteúdo. (p. 94)
O revisor como um leitor especializado
De maneira resumida, Além da revisão se mostra um manual importante para o profissional de revisão de textos, pois apresenta os critérios (conforme o subtítulo do texto) para se entender o que vem a ser a atividade que esse profissional desempenha. Entre esses critérios, sublinho o papel da leitura na atividade do revisor e sua função de ferramenta primeira desse profissional como noção relevante para começarmos a entender o que faz o revisor: de fato, antes de tudo, o revisor é quem lê o texto do autor, seja na preparação, seja na revisão de provas.
Além disso, conforme o raciocínio de Aristides nos leva a entender, quanto mais qualificada for a leitura do revisor melhor será sua capacidade de mediar os pontos a serem revisados num determinado texto. Por fim, além de revisar, podemos dizer – conforme o manual de Aristides Coelho Neto – que ler e mediar são critérios que definem a atividade do revisor de textos.
Onde comprar o Além da revisão
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Sobre esta série
Há diversos outros livros sobre revisão de textos. Nem sempre o objetivo deles é definir diretamente o que vem a ser essa atividade, entretanto praticamente todos a descrevem em algum nível. Conhecer essas #teoriasdarevisão é uma das formas de o revisor compreender melhor sua própria atividade, podendo assim melhorá-la.