Emprega-se ou não vírgula antes do “etc.”?

Descubra se deve usar ou não usar a vírgula antes do etc. Também comentamos outras formas de uso do etc. e sua adequação a textos que seguem a norma-padrão do português.

, 31 de março de 2020

Embora seja uma questão um tanto quanto batida, muitas pessoas ainda têm dúvida em relação ao uso da vírgula antes do etc. Veja o que diz Luft sobre essa questão:

Meu amigo, não temos aí problema de certo/errado, e sim questão de uso: tanto se usa como não se usa vírgula. O usual (a gente sabe, de ler) é vírgula antes do etc. O resto é questiúncula de gramáticos; gramatiquice. (Celso Pedro Luft, em A Vírgula)

Como bem diz Luft, o uso da vírgula antes do etc. fica ao gosto do freguês. É fundamental, no entanto, que seja padronizada a presença ou a ausência da dita-cuja do início ao fim do texto.

Caso você não se convença com Luft, temos um gramático, digamos, mais conservador para reforçar o coro:

Costuma-se usar vírgula antes dessa abreviatura, embora ela contenha a conjunção e: Consertam-se fogões, geladeiras, máquinas de lavar, etc. Este uso da vírgula é abonado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e por filólogos e gramáticos (Aurélio, Celso Cunha, Bechara, Gama Kurry). Todavia, não constitui erro omitir o dito sinal de pontuação, neste caso. Há gramáticos, como Pasquale Cipro Neto, e lexicógrafos, como Houaiss, que não usam. (Cegalla, no Dicionário de dificuldades da língua portuguesa)

Muitas publicações estabelecem uma regra de uso para todos os que escrevem e revisam seus materiais. É uma boa ideia, mas lembre-se sempre de que a “norma” serve apenas à publicação a que se refere o manual; em outros casos, o uso pode ser diferente.

Mas e o significado de etc. em latim?

Quem defende o não uso da vírgula antes do etc. tem como argumento o significado da abreviação em latim: et cetera.

locução conjuntiva

1   e outras coisas (encerrando enumeração como informação genérica e, ao mesmo tempo, conclusiva, definitiva ou comprobatória da extensão do que vinha sendo enumerado) [abrev.: etc.]

2   e assim por diante

(Houaiss)

Esse “e” que aparece na tradução da expressão parece ter força suficiente para evocar as regras que acompanham tal conjunção, que em português dispensam a pontuação especialmente em enumerações.

Escrever “e etc.” é errado?

Se nomes de peso abonam com gosto a vírgula antes do etc., já não podemos lançar mão desse argumento em relação ao “e etc.”. Isso quer dizer que o melhor ainda é deixar de lado esse tipo de construção ao escrever textos que devam estar enquadrados na norma-padrão.

Reticências com etc. pode?

As reticências são um recurso de pontuação bastante delicado que não raro é negligenciado. Se você usar “etc.” seguido de reticências, provavelmente o revisor optará por uma ou outra forma, porque as duas juntas podem soar um pouco redundantes.

O etc. e o ponto e vírgula

Nos casos em que abrange vários conjuntos separados por ponto e vírgula, é esse mesmo sinal que precede o etc.: “…; farmácia, fósforo; retórica, ruibarbo; teatro, turíbulo; etc.”

Muito correta, lógica, essa pontuação: a vírgula (ou a falta desta) assinalaria o etc. como abrangendo apenas o último conjunto. (Celso Pedro Luft, em A Vírgula)

Devo ou não usar vírgula antes do etc.?

  • Pode-se usar ou não usar a vírgula antes do etc.
  • Esse uso deve ser uniforme em todo o texto.
  • “E etc.” não é uma expressão aceita em textos que seguem a norma-padrão.
  • “Etc.” seguindo de reticências deve ser evitado.
  • Em enumerações separadas por ponto e vírgula, mantém-se o sinal antes do etc.


Referências

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon, 2019.

Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. 1 CD-ROM.

LUFT, Celso Pedro. A vírgula: considerações sobre o seu ensino e o seu emprego. São Paulo: Ática, 1996.


Escrito por Carol Machado,
em 31 de março de 2020.
Mestra em Ciências da Linguagem na Universidade Nova de Lisboa. Graduada em Letras pela PUCRS. Revisora desde 2008. É autora do Manual de Sobrevivência do Revisor Iniciante e coautora do Revisão de Textos Acadêmicos - boas práticas para revisoras, estudantes e a academia.
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