Sinais de revisão estão ultrapassados?
Neste post veremos se os sinais de revisão, também conhecidos como símbolos, códigos ou marcas de revisão, estão ultrapassados numa época de softwares cada vez mais avançados.
— Allan Moraes,26 de setembro de 2019
Para fazer os carimbos de revisão, aprendemos muito mais sobre os sinais de revisão, bem como testamos diferentes métodos e ferramentas para revisão de PDFs.
Os carimbos, aliás, passaram por uma repaginada total: no começo tínhamos 83 carimbos diferentes, agora temos 131 carimbos em cada coleção; eles agora estão mais consistentes, com uma fonte mais apropriada e mais legível; também estão economizando mais espaço e receberam cores mais suaves, para não falar no design dos carimbos extras, que você pode conferir brevemente no vídeo que divulgamos na nossa fanpage.
Mas o que quero mesmo dizer com este update é que todo esse tempo se passou e os sinais de revisão se mostram ainda úteis e necessários.
Nosso objetivo não é apenas o de oferecer um curso sobre sinais de revisão nem somente disponibilizar uma ferramenta nova para a área, mas (se me permitem ser um pouco ambicioso) é o de criar uma verdadeira cultura na área de edição de textos e mostrar a todos os revisores (tanto veteranos quanto iniciantes) que temos muito a aprender e muito a aperfeiçoar nos nossos serviços. O primeiro passo para isso é aprender novas técnicas, discuti-las e divulgá-las.
Vantagens dos sinais de revisão
Os carimbos, falando pessoalmente, se mostraram muito efetivos com clientes diversos que tivemos ao longo desses meses. A vantagem dos sinais é a de ser uma linguagem objetiva, que não exige um longo aprendizado e que não se torna obsoleta. E uma coisa é certa: os clientes apenas aprenderão a usar os sinais e carimbos se isso partir dos revisores. Para isso, além do Guia de Sinais de Revisão, que é um bônus para os alunos do workshop, estamos já pensando em novos materiais para facilitar essa divulgação em toda a área editorial.
A ideia com tudo isso que viemos criando ao longo desses meses é de mostrar um princípio básico: profissionalismo é algo ativo – temos de aprender, estudar, pesquisar e dialogar, tanto entre nós mesmos, os profissionais, quanto com os clientes. Isso, como sabemos, leva tempo, mas uma vez criada uma cultura positiva e ativa, toda a área sai ganhando: revisores passam a ser vistos como sendo mais profissionais e organizados aos olhos dos clientes e os clientes, por sua vez, ganham serviços com cada vez mais qualidade.
Sinais de revisão ainda são usados?
Resposta breve: sim. E mais do que imaginamos. Mesmo com o surgimento de diversos softwares, como o Word, o Adobe InDesign, o Adobe InCopy e editores de PDF, os sinais de revisão ainda são bastante usados em editoras sérias que seguem um processo de editoração de livros e publicações diversas que podemos chamar de “tradicional”.
Sinais de revisão ainda são usados porque são muito úteis para indicar correções em provas de textos já diagramados. E isso é importantíssimo: no processo de editoração de um livro, as etapas de edição e de preparação devem ser feitas no Word. A revisão em si não deve (ou não deveria) ser feita no Word porque ali o texto ainda não está diagramado em formato de livro.
Devo aprender a usá-los?
Em empresas e editoras sérias, essas etapas descritas acima são rigorosamente respeitadas, ou seja, nunca um revisor fará a revisão do texto no Word para então o texto ser diagramado e já ser impresso. Isso significa que estão pulando uma etapa importante: a etapa de revisão e conferência da prova impressa. E isso pode ser desastroso.
Se você quiser revisar livros (ou revistas, outros impressos e até mesmo e-books), é muito provável que terá de aprender a usar esses sinais, já que você não fará apenas a edição do texto.
Não é só o revisor que deve saber usá-los: o ideal é que todos os envolvidos no processo editorial saibam. Entretanto, especialmente o revisor e o diagramador (e também o gerente de projetos) devem conhecer esses sinais profundamente (o que não é algo difícil).
Quando e onde eles são usados?
Além de todos os problemas gramaticais e textuais, ao trabalhar com livros ou outros impressos você deverá conferir itens diversos de diagramação, como alguns problemas de layout: texto desalinhado, indentação incorreta de parágrafos, espaçamento entrelinha, fontes erradas, tamanho da fonte em títulos e subtítulos, linhas órfãs e viúvas, hifenação incorreta, erros de paginação e capitulação, boxes, olhos, bullets, figuras, legendas, etc.
Não é possível fazer essas indicações no Word porque, obviamente, o texto nele ainda não foi diagramado. Todos esses itens são indicados pelo revisor na prova impressa; e isso é feito usando os sinais de revisão.
Como vimos, os sinais são majoritariamente usados em provas impressas; ou seja, o livro é diagramado, impresso em papel e enviado para o revisor. O revisor usará basicamente canetas de cores diversas, lápis, borracha, corretivo, marca-texto e até post-its para indicar as correções a serem feitas. Parece um trabalho artesanal, uma forma ultrapassada de revisar textos, mas esse processo ainda é bastante praticado em muitas editoras.
As pessoas ainda sabem usá-los?
Depende. Pessoalmente, tenho a impressão de que revisores e profissionais iniciantes da área editorial não têm tanto contato com sinais de revisão nos dias de hoje. Isso se dá por diversos motivos: o trabalho agora é majoritariamente feito em tela (no computador), o que dispensa o uso dos sinais; em cursos, os sinais muitas vezes são ensinados superficialmente; revisores iniciantes nem sempre trabalham com livros ou editoras; outro problema pode ser a rotatividade: se a equipe toda não sabe usar os sinais, eles perdem seu sentido e sua eficácia.
Já vi agências dispensarem totalmente os sinais de revisão porque membros da equipe (redatores e diagramadores) simplesmente não sabiam usá-los (e não queriam aprender).
Entretanto, eles são fáceis de aprender e qualquer um que tiver a oportunidade de trabalhar em editoras e empresas sérias poderá aprender na prática a usá-los com alguns colegas.
Por que usá-los?
Agora a coisa começa a ficar mais séria: por que usar sinais de revisão quando, hoje em dia, a maior parte do trabalho é feita em tela, quando poucas pessoas sabem usá-los e já que há diversas outras formas de indicar essas correções, inclusive com softwares?
Minha resposta é: por experiência própria com diversos processos de revisão, em alguns casos nada consegue substituir efetivamente esses sinais.
Um exemplo é o Adobe InCopy. Não quero entrar na questão de o Adobe InCopy ser mais efetivo ou não; até porque há processos diferentes e a equipe deve analisar quando vale a pena ou não usá-los. Entretanto, o InCopy se mostra um grande “concorrente” dos sinais de revisão: o revisor pode editar e corrigir o texto já diagramado (sem afetar a diagramação) rapidamente; toda a equipe trabalha em conjunto, sem ser necessário usar provas impressas.
O problema é que o InCopy é pago — e não é barato. Especialmente no caso de revisores autônomos, que trabalham em casa, pagar por um software (a assinatura do programa atualmente é mensal ou anual) que provavelmente será usado apenas com alguns clientes não é vantajoso. Entretanto, deixo para vocês a avaliação final desta solução, que une o uso tradicional dos sinais de revisão com as vantagens da tecnologia.
Sinais de revisão para PDFs
Agora imagine poder usar os sinais de revisão facilmente em um PDF: nada mais de provas impressas, nada mais de motoboys indo e voltando com provas entre a casa do revisor e a editora, nada mais de gastos com cartuchos de tinta, impressoras, energia e papel; nada mais de perder folhas de provas (sim, acontece...); e nada mais de pagar caro por softwares.
Revisores profissionais sabem que revisar em PDF é uma dor de cabeça: a única forma de indicar as marcações é usando ferramentas (balões e caixas de texto) do próprio leitor de PDF.
Por que isso é um problema? Porque cada correção deve ser indicada por escrito dentro de um balão ou caixa de texto. Isso é cansativo e oneroso. Veja um exemplo:
Uma bagunça, não? Mas é assim que muitas vezes a revisão precisa ser feita; ou porque o cliente envia o texto em PDF, ou porque não é possível enviar uma prova impressa até a casa do revisor, ou por diversos outros motivos.
Mas aqui é que entra a novidade: desde meados do ano passado, a Carol e eu estamos desenvolvendo esta solução para revisar PDFs quase que da mesma forma que faríamos com uma prova impressa. Trata-se de usar carimbos (desenhados por nós) que inserem os sinais de revisão com apenas alguns cliques. É possível também usar uma mesa digitalizadora para agilizar ainda mais o processo (e torná-lo mais confortável e ergonômico). Veja abaixo:
Foi um processo longo, e ainda estamos fazendo alguns ajustes, mas veja a diferença entre um PDF revisado usando nossos sinais de revisão e o PDF revisado da “forma antiga” (clique na imagem para ampliá-la):
O PDF da esquerda mostra os sinais de revisão que desenvolvemos para serem usados quase que da mesma forma que faríamos tradicionalmente, numa prova impressa, aproveitando a margem da página para indicar as correções.
O PDF da direita mostra como a revisão pode ser feita usando balões e caixas de texto; entretanto, fica clara a diferença: a página fica poluída; os balões e as caixas ficam uns por cima dos outros; cada indicação tem de ser feita por escrito. Tudo isso, obviamente, pode tornar o trabalho do diagramador um pesadelo, e muitas vezes ele pode se perder entre as diversas indicações.
Além disso, há diversas vantagens de se usar os sinais de revisão para PDFs: redução de gastos com papel, tinta e impressoras; o revisor pode trabalhar de qualquer lugar, sem precisar receber provas impressas; você transmite uma imagem mais profissional ao cliente; menos poluição visual (o que ajuda muito no trabalho do diagramador); o revisor pode usar o PDF para pesquisar rapidamente por termos, rolar entre páginas muito mais facilmente e até mesmo inserir marcadores (coisas que seriam impossíveis com uma prova impressa).
Se você gostaria de usar os carimbos na sua editora, pode adquiri-los aqui. : )
Meu agradecimento especial ao Davi Miranda, do blog Assédio Textual, pelas indicações de obras de referência e pela disposição em sempre nos ajudar. : )