Converse com o leitor e ganhe um público mais engajado
Aprenda 6 estratégias com exemplos que vão trazer o papo para dentro do seu conteúdo e melhorar o engajamento do público imediatamente.
— Carol Machado,16 de outubro de 2019
Ter um texto que gera engajamento, envolvente, que as pessoas queiram ler, não é tarefa fácil. Você precisa combinar empatia, autenticidade, conhecimento da persona... Mas é possível usar alguns recursos linguísticos que facilitam a interação e criam verdadeiras conversas dentro do conteúdo.
E esse tipo de coisa você não costuma aprender nas aulas de redação da escola.
O que aprendemos na escola, geralmente, é analisar frases soltas. Quando muito, nos ensinam a estrutura de um texto dissertativo-argumentativo para passar no vestibular. Esses conhecimentos são bons, porém limitados para o que precisamos produzir hoje.
No entanto, engana-se quem acredita que precisamos nos desviar da norma-padrão – a “gramática” – quando queremos escrever textos que “puxam conversa”. Há recursos perfeitamente adequados à norma, e o nível de formalidade do texto fica a cargo de como você os usa.
Neste texto, apenas a primeira dica requer que estiquemos um pouco a tolerância daquilo que é prescrito na gramática normativa. As outras cinco cabem perfeitamente no melhor uso entre os usos da norma-padrão.
Veja a seguir algumas técnicas que ajudam a criar textos que engajam seus leitores.
Verifique se o tom de voz está de acordo com a sua marca
O que dita como a sua marca se expressará, tanto no blog quanto em redes sociais, é a persona que se quer atingir. Marcas jovens precisam usar a linguagem que está na boca dos jovens; marcas tradicionais voltadas a personas tradicionais devem se comunicar também de forma tradicional. Quanto mais formal for o público, mais próximo da norma-padrão devem ser os seus textos.
Uma das características importantes do tipo de texto usado em blogs é o seu tom de conversa, a informalidade. Esse tom é alcançado quando usamos mais marcas da oralidade em nossos textos. Alguns exemplos disso são:
1. Usar “tu” e “você” no mesmo texto e até na mesma frase
Exemplo: “Vou te contar alguns segredos que vão te ajudar a aumentar seu faturamento”.
Nesse exemplo nós vemos uma frase pensada para fazer parte de uma conversa, que chama o leitor para dentro do texto. Para isso, usam-se os pronomes “te”, de segunda pessoa, e “seu”, de terceira pessoa. Embora essa mistura possa ser vista com maus olhos em escritas formais, é supernormal em nossa fala do dia a dia, por isso traz certa naturalidade para o texto.
Entretanto, tome cuidado com o público.
Se sua marca for voltada a um público que costuma se comunicar mais formalmente (ou, mesmo que não o faça, exija isso), então esse tipo de abordagem não vai funcionar, porque o leitor estranhará e poderá até mesmo questionar o profissionalismo da sua empresa.
(Sim, assim como a escrita tem o poder de dar credibilidade, ela também tem o poder de tirar credibilidade.)
2. Vocativos: chame o leitor para a conversa
Você já deve ter ouvido na aula de português sobre o que são vocativos, principalmente porque eles são sempre seguidos de vírgula.
Mas isso aqui não é aula de pontuação.
Vocativos são especialmente úteis para chamar a atenção do seu interlocutor, no caso, o leitor. Além disso, se usados de forma criativa, podem tornar-se a sua marca pessoal. Você já viu como o Jonathan Van Ness chama todo mundo de honey em Queer Eye? É quase que uma marca pessoal dele.
Sabe quem mais era mestre em chamar o leitor para dentro do texto? Ele mesmo, o grande mestre Machado de Assis. Veja os vocativos destacados:
A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
A minha ideia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se ideia fixa. Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho.
Os vocativos funcionam extremamente bem para textos escritos em primeira pessoa, como é Memórias póstumas de Brás Cubas. As marcas linguísticas de primeira pessoa nos exemplos acima são as flexões verbais (pago-me/pago-te) e pronome possessivo (minha).
Como você pôde ver, é possível tirar inspirações de todas as mídias, de todos os tempos, da cultura pop aos grandes clássicos da literatura. É só saber para onde olhar. 😉
3. Perguntas: conversas são vias de mão dupla
Outra forma de verificar se o texto tenta puxar conversa é ver se ao longo dele são feitas ao leitor perguntas, preferencialmente as do tipo “aberta”, pois são essas que geram os melhores feedbacks.
Mas que raio é isso de pergunta aberta?
Ao contrário das perguntas fechadas, em que a resposta mais direta e fácil é apenas “sim” ou “não”, as perguntas abertas sugerem que o leitor pense e elabore um raciocínio para chegar a uma conclusão. Isso pode ser um pedido de opinião, uma provocação em torno de um tema polêmico – a criatividade é o limite.
Veja, por exemplo, a diferença que existe entre uma pergunta fechada e uma pergunta aberta:
Já meditaste alguma vez no destino do nariz, amado leitor?
Esse exemplo também é retirado de Memórias póstumas e mostra uma pergunta fechada: a resposta normal a ela seria “sim” ou “não” – no máximo um “às vezes”. Esse tipo de pergunta não costuma gerar conversas. No entanto, se você tenta puxar o papo para os pensamentos, as experiências, os sentimentos das pessoas, aí sim começa um tête-à-tête.
Assim, é possível reescrever perguntas para que se tornem abertas:
O que o amado leitor pensa quando medita a respeito do destino do nariz?
(Aliás, longe de mim reescrever Machado, que fique claro. Isso aqui só tem fins exemplificatórios.)
4. “Nós” é melhor que “a empresa”
Por último, a terceira pessoa não combina muito com conversas. Se vocês são uma empresa de muitas pessoas e querem deixar isso transparecer no texto, aposte em “nós trabalhamos para...” ou “a gente trabalha para...” em vez de “a Aperta Parafusos trabalha para...”.
Se você está mais por dentro de minúcias gramaticais talvez esteja dizendo que “a gente” também é classificado em gramáticas normativas como uma forma pronominal de terceira pessoa (e atenção: o verbo concorda na terceira pessoa!). Mas saiba que, semanticamente, ela equivale, sim, à segunda pessoa do plural – nós.
5. Você escreve para muitos, mas conversa com um por vez
Isso quer dizer que usar “vocês” pode não ser uma boa ideia. Leitura é um ato solitário. É só você e o leitor, interagindo por meio de palavras.
Mesmo que você tenha 10 mil seguidores, cada um lerá o texto individualmente, então, por que não falar para ele em vez de para uma multidão sem rosto?
Você pode falar assim, para a plateia imaginária:
Agradeço àqueles que baixaram meu ebook. Espero que tenham gostado.
Ou assim, para o seu leitor:
Vi que você já baixou meu ebook. Muito obrigada! Espero que você me conte o que achou.
Não é preciso escrever um post ou um email para cada pessoa, mas use a língua de forma que cada um sinta que aquilo foi escrito para ele, sem forçar a barra.
6. Por fim, seja humano
Você não precisa escrever como fala, até nem se recomenda que o faça, porque isso pode tornar – pasme – o texto muito chato de ler. Quando falamos, temos tom de voz, gestos, hesitações que nos ajudam a expressar coisas de uma forma tão completa que a escrita nem chega perto de reproduzir.
No entanto, com pitadas desses recursos que mostrei aqui, você pode, sim, conversar com o leitor sem encher o saco dele. Para ajudar nessa tarefa, leia textos que usem esses recursos e preste atenção nesses detalhes; imagine como poderia usá-los nos seus textos.
E, mais uma vez: inspire-se também nos clássicos! Como vimos neste artigo, até mesmo nosso romancista maior, Machado de Assis, pode nos ajudar a escrever textos de marketing mais engajantes.
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