“Acho que estou muito velho(a) para recomeçar agora…” e outras dúvidas

Para ser revisor, você precisa ser formado em Letras? Precisa fazer cursos de revisão de texto? Afinal de contas, existe idade certa para começar uma nova carreira?

,7 de fevereiro de 2019

Início de ano é sempre uma boa época para parar um pouco e refletir sobre novos rumos para a carreira e até mesmo para a vida. É neste momento que surgem milhares de dúvidas, anseios e que tais. Normal!

Espero que as dicas aqui incluídas sejam proveitosas. Fique à vontade também para dar suas opiniões e ajudar outros colegas; afinal, quanto mais profissionais nos tornarmos, melhor seremos vistos pelo mercado de trabalho.

1. Para ser revisor, preciso ser formado em Letras?

É uma pergunta bastante frequente que tem uma resposta simples e outra um pouco mais complexa. A primeira é: não, não é preciso ser formado em Letras. A segunda: embora não seja um background obrigatório, a formação em Letras facilita a sua entrada no mercado de trabalho. Já falei sobre isso neste post.

Existem também diversos cursos livres de revisão de texto, além de especializações. Assim, você não precisa recomeçar uma faculdade. Além disso, sua formação em Administração ou História pode ser um diferencial, porque você já pode começar como um revisor especialista na sua área.

Então, o principal conselho aqui é: foque inicialmente em contatar clientes que trabalhem na área em que você já tem algum conhecimento da linguagem e segurança para atuar.

Com isso não quero dizer que você atuará revisando os mesmos assuntos sempre; no entanto, é uma forma de começar a adquirir experiência.

2. Preciso fazer cursos de revisão de texto?

Muita gente (se/me) pergunta se vale a pena fazer cursos livres, se eles realmente abrem portas no mercado. Acredito que sim, ainda mais quando a pessoa não tem formação em Letras, como já mencionei.

Vejamos algumas vantagens:

  • Quando faz um curso, você ganha mais confiança.
  • É uma forma de mostrar aos clientes que você está interessado em investir nessa carreira, fazendo dela a sua ocupação principal.
  • Cursos colocam você em contato com outros profissionais, ou seja, geram – além do conhecimento – também networking.
  • Se você nunca trabalhou em um ambiente editorial, é uma boa chance de entender como ele funciona, quais são suas particularidades e seus padrões.

3. Mas na minha cidade não tem trabalho…

Se você está aqui lendo este post, há uma boa chance de que tenha acesso à internet regularmente.

Não é preciso prender-se a um local hoje em dia, porque a maioria de nós trabalha exclusivamente em frente ao computador e interage por meios digitais. Para alcançar esse patamar, criamos nossa divulgação online, com sites, redes sociais e até mesmo contribuindo em grupos online.

Eu, por exemplo, vim a Portugal para fazer mestrado. Acredito que alguns dos meus clientes nem mesmo sabem que não estou no Brasil. Quando morava em Porto Alegre, não tinha nenhum cliente fixo da cidade, nem do estado. Sendo assim, mesmo que more no Oiapoque ou no Chuí, tendo uma conexão de internet, as barreiras geográficas não são mais um problema.

4. Dá para sobreviver com o que ganha um revisor?

O Allan já escreveu um artigo bem abrangente sobre quanto ganha o revisor. Aqui falarei das minhas opiniões de forma resumida.

Para começar, quanto você precisa ganhar? É a partir desse questionamento que você entenderá qual é a quantia mínima para que seu trabalho freelancer comece a valer a pena. Depois, aprenda a calcular quanto vale a sua hora de trabalho.

Depois, desapegue da ideia de que existe alguma tabela mágica de preços que todos os revisores brasileiros devem seguir. As tarifas variam muito de acordo com a área de atuação, o regime de contratação, o tipo de serviço prestado etc.

Em revisão editorial, por exemplo, é comum que o contratante proponha um valor por lauda, ficando a critério do revisor aceitá-lo; em outras, geralmente o revisor tem mais liberdade para propor orçamentos, então cabe ao cliente decidir se quer investir ou não no serviço com aquele profissional.

No fim das contas, se você tiver em mente quanto precisa ganhar, quanto quer ganhar e quais clientes vai buscar que estejam dispostos a pagar, o caminho fica um pouco mais fácil. Porém, já adianto que juntar as três coisas não acontece rápido nem por mágica; leva tempo e requer algum esforço.

Você pode começar com clientes que pagam menos e, de acordo com a sua divulgação e as indicações que surgem, conseguir aumentar seus preços até aquilo que considera justo. Se for começar cobrando menos, pense nisso como uma estratégia de curto prazo para sanar um problema emergencial, que pode não se sustentar no longo prazo.

5. O que fazer com a concorrência que cobra tão pouco?

Pense em duas marcas que ocupam lados opostos de um mesmo ramo: Casas Bahia e Tok&Stock. Ambas vendem móveis, certo? Certo. Mas o preço que cada uma cobra por seus produtos é completamente diferente. Por quê? As Casas Bahia têm seu apelo: móveis básicos, com preço baixo e parcelamentos longos. A Tok&Stock tem outro apelo: móveis assinados por designers, posicionamento de marca premium, e por aí vai.

Embora não vendamos produtos, também precisamos nos posicionar no mercado. Vamos trabalhar por um valor alto por lauda para um público que procura algo mais na revisão? Vamos fazer um trabalho mais básico e tentar ganhar na quantidade? Nenhuma das opções é a certa per se. São abordagens diferentes que demandam estratégias diferentes de divulgação.

Existe todo tipo de cliente, assim como existe todo tipo de revisor. E mais importante ainda: o tempo que gastamos reclamando sobre o coleguinha que cobra pouco pode ser investido em divulgar nosso próprio negócio. Isso nos leva ao próximo tópico!

6. Eu vou conseguir clientes?

Essa é uma pergunta que aflige muitos iniciantes, mas precisa ser imediatamente reformulada. Acredito que o mais adequado é: o que preciso fazer para conseguir clientes?

Não tenho a indicação de uma fórmula mágica aqui, porque cada pessoa, ou cada negócio, funciona de uma forma diferente. Como já falei no Manual de Sobrevivência do Revisor Iniciante, o que tem dado certo para mim é criar conteúdo que ajude pessoas que têm algum problema a ser resolvido na área da comunicação.

Você precisa se preparar para divulgar seu negócio constantemente.

Uma boa estratégia de marketing usa diferentes ferramentas nos diversos canais disponíveis. Essas ferramentas devem estar conectadas e fazer parte de uma estratégia única. Seu site, o conteúdo que você compartilha, as redes sociais em que você posta, seu currículo, os e-mails que você escreve, tudo isso deve ter sua marca e seu tom de voz para que os clientes possam reconhecer seu negócio.

6.1. Propaganda boca a boca funciona?

Funcionar, funciona. Contudo não tanto quanto seria necessário para manter um fluxo de trabalho constante, a não ser que o cliente para o qual você foi indicado queira firmar um contrato de demandas recorrentes.

O melhor mesmo é ter uma atitude ativa de divulgação, que seja focada no seu cliente dos sonhos. Quer trabalhar com acadêmicos? Escreva conteúdos relacionados a esse universo. O mesmo serve para quem quer trabalhar com publicidade, autores independentes, clientes corporativos, traduções etc.

6.2. Como saber o que é relevante para o meu cliente?

Nos primeiros posts, é legal você tentar se colocar no lugar do seu cliente ideal. Que tipo de dúvidas ele pode ter? Com o tempo, é possível descobrir por meio dos dados de acesso ao seu blog o que mais atrai os leitores, identificando quais são os termos mais pesquisados, por exemplo.

É possível também que os próprios leitores comecem a fazer perguntas diretamente a você – sinal de que o enxergam como um especialista no assunto, o que é ótimo.

7. Acho que estou muito velho(a) para recomeçar agora…

Você está pensando em virar revisor, mas acha que “o bonde já passou”? Este é um sentimento que tem aparecido no meu inbox mais frequentemente nos últimos tempos.

Não quero soar muito autoajuda aqui, mas a verdade é que isso só depende de você. Eu ainda não decidi mudar de carreira, e se/quando decidir que é a hora, sei que terei de aceitar ganhar menos no início, (re)aprender tarefas específicas ou básicas, usar aquilo que já sei como uma rede de segurança para a nova profissão.

Existem revisores ativos e felizes dos 18 aos 80 ou até mais, possivelmente. Todos começaram de algum ponto. O único conselho que posso dar é: tente fazer tudo da forma mais planejada possível. Ainda está no outro emprego? Não espere para começar a buscar qualificação apenas quando sair. Foi demitido e quer dar outro rumo na vida? Aproveite o tempinho do seguro para estudar e planejar.

Ficou ainda com alguma dúvida?

Este post tem o principal intuito de lhe dizer que vai ficar tudo bem.

Possivelmente aprofundarei esses temas em outros conteúdos. Tem outro assunto assombrando você e que não apareceu aqui? Pergunte! Quem sabe logo mais não reúno perguntas suficientes para outro artigo desses? 😊


Escrito porCarol Machado,
em7 de fevereiro de 2019.
Mestra em Ciências da Linguagem na Universidade Nova de Lisboa. Graduada em Letras pela PUCRS. Revisora desde 2008. É autora do Manual de Sobrevivência do Revisor Iniciante e coautora do Revisão de Textos Acadêmicos - boas práticas para revisoras, estudantes e a academia.
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